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Donald Trump e o exame de próstata

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Início de ano, época tradicional de meu checkup anual. Fui ao gastro, dermato, oftalmo, dentista, angiologista; chegou o momento mais doloroso e postergado, o urologista. Como não existe peça de reposição, tem que arrumar os órgão avariados.
Desde 2021 não ia ao urologista. Marquei consulta para começo da tarde. Clínica cheia; todos aguardando o médico. Preenchi a ficha, perguntei quantos tinham na minha frente. “Oito”, respondeu a atendente, “como o senhor é prioridade, logo será atendido”. Não demorou, o médico me chamou pelo nome.
-Senhor Luiz Thadeu, boa tarde.
-O que lhe trás aqui.
-Doutor, estou há tempos adiando a vinda ao urologista.
Ele consultando o computador, falou;
-Desde 2021, faz tempo, mesmo.
-O que o senhor está sentindo.
-Uma irritação na membrana peniana.
-Abaixe as calças.
Calças arriadas, ele pegou o celular e tirou uma fotografia do pênis. Não pegou no bilau. Não se faz mais médicos com antigamente. Antes havia a expressão, “fulana é que nem urologista do SUS, pega o pinto com nojo”. Esse médico, nem com nojo pegou.
-Vou lhe passar uma pomada e o senhor toma um comprimido.
-O senhor não vai fazer o exame de próstata?
-Arrei as calças e a cueca, deite de bruço na maca, perna esquerda levemente flexionada.
Ouvi o estalar da luva de látex ao se encaixar na mão direita dele. Senti quando ele colocou o dedo no orifício circular, rugoso, localizado na parte inferior lombar da região glútea. Todas as vezes que sou submetido a tal exame, sinto que os órgão internos são empurrados para a boca, tamanho desconforto. Embora dure segundos, são eternidades para mim.
-Vista-se. Para sua idade, o tamanho da próstata está normal. Vou lhe passar ultrassom, que o senhor marca na saída com a atendente.
Jamais seria médico, por inaptidão e não saber lidar com sangue; tenho medo até de menstruação. Mas, caso cursasse medicina, seria urologista; pois não existe coisa mais vexatória do que um ser humano introduzir o dedo no ânus de outro. A não ser que seja com permissão e com consentimento, em um ato sexual prazeroso, para quem gosta. No reino animal somente os macacos introduzem o dedo no rabo do outro por pura gaiatice.
A medicina que evolui a cada dia, já deveria ter descoberto uma técnica de se fazer um exame de próstata sem precisar ser introduzido o dedo no ânus de alguém.
Refeito do incômodo e desconforto do exame, com os órgãos internos nos seus devidos lugares, chego em casa a tempo de assistir a posse, ou seria a coroação do novo rei do mundo? Pela TV assisto as cenas da posse de Donald John Trump, 78 anos, como 47° presidente dos EUA, a nação mais poderosa, -econômica e bélica do mundo-, e vejo aquele homem alaranjado, e lembro que ele também tem que passar pelo urologista de vez em quando e pegar uma dedada.
Imagino a cena, do homem mais poderoso do mundo, e o médico:
-Sr. Trump, tire as calças e a cueca, na posição frango assado, pernas levantada, como exame papanicolau, que as mulheres são submetidas. Imagino o urologista enfiar o dedo indicador no botão róseo do todo poderoso e histriônico Trump.
Caro leitor, amiga leitora, não sei se você concorda comigo, mas poderoso mesmo é o sujeito que enfia o dedo no ânus de Donald Trump, Wladimir Putin, Xi Jinping, ou do enfezado Kim Jong-Un.
Assim como a morte, o exame de próstata iguala todos os homem.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

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Finanças pública em 2024: Aumento do déficit previdenciário e queda dos níveis de execução dos investimentos programados

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No artigo de hoje vamos iniciar uma análise sobre alguns detalhes da execução orçamentária e da gestão fiscal do Governo do Acre no exercício de 2024. Os dados foram pesquisados nos relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, publicados pelo governo no final do mês de janeiro de 2025. No artigo de hoje a análise vai se centrar no comportamento das receitas totais; no déficit previdenciário; nos pagamentos de juros, encargos e amortização da dívida e dos gastos com investimentos. O objetivo é concluir essa breve análise no artigo da próxima semana. Para uma melhor contribuição, vamos analisar os dados dos últimos 4 anos (2021, 2022, 2023 e 2024).

Em 2024, as receitas totais realizadas superaram em 10% a previsão inicial

As receitas totais, em 2024, atingiram R$ 11,87 bilhões. O valor foi 10% a mais que a estimativa inicial programada pelo governo, estimada em R$ 10,79 bilhões, valor que foi aprovado pela Assembleia Legislativa. Observando-se os dados desde 2020, verifica-se que em todos eles, constata-se uma subestimação das receitas por parte do governo, conforme pode ser observado na tabela a seguir. O auge da diferença aconteceu no ano de 2022 onde a receita realizada superou a previsão inicial em 20,7%.

GOVERNO DO ACRE: Receitas – Previsão inicial e Realizadas em 2021, 2022, 2023 e 2024 – em (R$)
RECEITAS 2021 2022 2023 2024
Previsão Inicial 6 774 734 432,50 7 847 413 468,92 8 897 834 351,30 10 788 871 605,98
Realizadas 7 929 464 475,90 9 469 050 365,96 10 152 071 308,31 11 867 228 692,33
Diferença 1 154 730 043,40 1 621 636 897,04 1 254 236 957,01 1 078 357 086,35
% da Diferença 17,0% 20,7% 14,1% 10,0%
Fonte: Relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – 2021,2022,2023 e 2024

O déficit previdenciário avança e atingiu R$ 955 milhões em 2024

Em 2024, o Regime Próprio de Previdência dos Servidores – RPPS, que atende aos trabalhadores civis e militares e seus dependentes, registrou déficit de R$ 955 milhões. O valor de 2024 é 44% maior, que o valor do déficit de 2021 (R$ 663 milhões). Comparando-se os déficits entre 2023 e 2024 o aumento foi de quase 19%, mostrando claramente uma tendência de alta. Na tabela a seguir demonstram-se os números do déficit dos últimos 4 anos.

Destaca-se que, enquanto o déficit do pessoal civil cresceu 35% em 4 anos, o déficit dos militares cresceu 60,7%. Em 2024, o número de beneficiários civis, que é a grande

maioria dos beneficiários, representou 61,1%. Por outro lado, a minoria, representado pelos militares já representa 38,9% do déficit.

GOVERNO DO ACRE: DÉFICIT DO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES E DO SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL DOS MILITARES em 2021,2022,2023 e 2024 – em R$
2021 2022 2023 2024
Regime Próprio dos Servidores 432 309 439,07 456 432 484,95 467 000 921,16 583 735 350,35
Sistema de Proteção Social dos militares 230 768 903,35 301 079 457,32 335 370 776,43 370 946 373,76
Total do Déficit 663 078 342,42 757 511 942,27 802 371 697,59 954 681 724,11
Fonte: Relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – 2021,2022,2023 e 2024

O sistema previdenciário do governo do Acre não é sustentável, assim como os da maioria dos estados brasileiros. Não sendo sustentável (as receitas pagarem as despesas), tem-se o déficit que é financiado pelo tesouro estadual. O déficit previdenciário suga recursos que deveriam ser direcionados aos investimentos, à infraestrutura, por exemplo, que poderia impulsionar o crescimento estadual.

Juros, encargos e amortização da dívida atingiram R$ 547 milhões em 2024

Outra questão que merece a atenção, pelo volume que representa na estrutura das despesas estaduais é pagamentos de juros, encargos e amortização da dívida. Esse valor, em 2024, correspondeu a R$ 547,5 milhões. São compromissos assumidos pelo Estado do Acre junto ao governo central, pelas operações de créditos contratadas pelos governos passados ou pelo governo atual. Os dados desses pagamentos constam na tabela a seguir. Importante destacar que o valor dos pagamentos é um pouco menor que os de 2023, depois de vertiginosos crescimentos em 2021 e 2022.

GOVERNO DO ACRE: Pagamento de Juros, encargos e Amortização da Dívida em 2021, 2022, 2023 e 2024 – Em R$ (%)
2021 2022 2023 2024
JUROS E ENCARGOS 130 254 723,25 164 185 624,99 232 896 558,65 232 643 612,12
AMORTIZAÇÃO 345 593 736,07 450 901 609,29 316 839 703,38 314 879 325,02
TOTAL 475 848 459,32 615 087 234,28 549 736 262,03 547 522 937,14
Fonte: Relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – 2021,2022,2023 e 2024

Fica evidente que uma redução de juros e encargos e o alongamento dos prazos de amortizações em muito contribuem para aliviar o caixa do governo para, principalmente, para realizar investimentos no curto prazo.

Nesse sentido, o presidente Lula, sancionou a Lei Complementar 212, de 2025, que cria o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Esse programa permite a renegociação das dívidas dos estados com a União. A nova lei foi publicada pelo Diário Oficial da União no dia14/01/2025.

Entre outras condições, a lei autoriza desconto nos juros e permite pagamento em até 360 parcelas (prazo de 30 anos). As parcelas mensais serão calculadas e corrigidas mensalmente, com possibilidade de amortizações extraordinárias e redução dos valores nos primeiros cinco anos.

As autoridades acreanas devem estar se debruçando sobre as condições do Propag, para definir a melhor estratégia para a renegociação da dívida estadual. Essa renegociação vai aliviar, no curto prazo, as finanças estaduais. Como disse, a renegociação é fundamental para que haja um aumento do espaço fiscal, que poderá ser canalizada para novos investimentos, capazes de ativar setores importantes da nossa economia.

Nível de execução dos investimentos volta a cair em 2024. O valor gasto representa somente 35,8% do programado e alcança o menor percentual desde 2021.

A capacidade da máquina pública de executar os investimentos programados continua sendo um sério problema para que o governo possa contribuir ainda mais, de forma direta, no crescimento da economia estadual. Tenho debatido essa questão em artigos anteriores.

Na tabela abaixo contém os valores dos investimentos programados e executados de 2021 à 2024. Verifica-se que, em 2024, dos R$ 1,2 bilhões programados, somente R$ 432 milhões foram executados, portanto, mais de R$ 770 milhões deixaram de ser aplicados em setores chave de geração de emprego e renda.

É elogiável a iniciativa do governo de tornar o ano de 2025 como o ano da execução. É justamente o concerto dessa falha na engrenagem que estar necessitando para uma maximização do gasto.

GOVERNO DO ACRE: Investimentos Programados e Realizados em 2021, 2022, 2023 e 2024 – Em R$ (%)
2021 2022 2023 2024
Programados 794 384 639,15 1 165 810 561,40 1 067 823 032,83 1 206 199 828,54
Executados 345 534 314,37 727 113 807,77 394 574 229,82 432 319 082,64
% de execução 43,50 62,37 36,95 35,84
Fonte: Relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – 2021,2022,2023 e 2024

Abordamos questões cruciais das finanças estaduais. A redução do déficit previdenciário, a renegociação das condições de pagamento da dívida e um esforço para executar em maior proporção os investimentos programados, podem significar mais recursos que podem ser canalizados para a realização de investimentos adicionais. A meta do governo de tornar o ano de 2025 em o ano da execução é muito bem-vinda. A economia agradece.

Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no Notícias da Redação

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