COLUNISTAS
Encontros e despedidas
COLUNISTAS
Encontrei-a no estacionamento do shopping. Época natalina, lugares cheio, difícil encontrar uma vaga. Ela já tinha estacionado, eu circulava feito pião. Até que Nossa Senhora das Vagas, arranjou a vaga tão necessária. Estacionei, e fomos para um lugar tranquilo. Sentamos, e ela me contou de sua felicidade nesta época do ano; falou que ama o Natal. Tempo de reencontros.
Perguntou-me por minha companheira de jornada. Contei-lhe o que aconteceu, que bateu asas e voou.
Ela ouviu calada, olhos arregalados, que não demoraram a derramar lágrimas. Falou suave: -Professor, estou pasma. Mas tenha fé, acalme seu coração, tudo passa, isso também vai passar.
Ela sempre me chama de “professor”. Já fui professor, lá atrás. Gosto de ser chamado assim.
Refeita, lágrimas escorridas, contou-me um pouco de sua vida.
Disse, sorrindo, que o marido, já falecido, todas as vezes que se emputecia, batia asas. Passava alguns dias, e retornava. Foram cinco vezes que assim procedeu. Ela nunca ligou para saber por onde andava: se estava bem, se tinha tomado os remédios tão necessários para combater suas comorbidades. Nas cinco vezes que ele se foi, voltou de asas arriadas.
Sábia, ela tocava sua vida. Ao vê-lo novamente retornar para casa, lhe perguntava:
-Bichinho, por onde andastes não te trataram bem?
Ele, zangado com o descaso dela, lhe respondia: -Nunca vi mulher assim, que o marido sai de casa e a mulher nem liga, não vai atrás.
-Eu não te expulsei de casa, você foi porque quis, e voltou pelo mesmo motivo. Você não foi com minhas pernas, portanto não tenho nada com isso.
Na última vez que ele escafedeu-se, ela soube que ele arranjara uma “cunhã”, e que estava apaixonado; já querendo o divórcio. Ela não disse nada, o conhecia bem; sabia que logo estaria pedindo arrego para voltar.
Não demorou muito para ele ligar, dizendo onde estava, e “que vira na TV, uma doença que estava matando o povo, e que ele queria voltar para casa”.
A doença era o coronavírus. Ela nem assuntou.
Ele ligou novamente apavorado, “pelo amor de Deus, pede para alguém me buscar, não quero morrer aqui”.
Ela providenciou que o filho fosse buscá-lo, todo paramentado, feito um astronauta, obedecendo os tais protocolos, tão em voga na época.
Ele voltou, ficaram em quartos separados. Ela providenciou tudo para ele, mas exigiu distância. Suas comorbidades se agravaram, e por conta da diabetes, ele ficou cego.
Nos últimos anos, ela deu toda a assistência para ele, até no derradeiro suspiro. Sepultou-o, e ainda no Campo Santo, pensou com seus botões: “daí tu não sai nunca mais, quem vai bater asas agora sou eu”.
-Professor, a pandemia do coronavírus foi minha amiga. Graças ao vírus letal, e o medo de morrer, ele voltou para casa.
-Olhe como as coisas são engraçadas. Desde que ele voltou pela última vez, não teve mais condição de administrar o dinheiro, não pode mais ir ao banco, e não aprendeu a fazer as transações pelo smartphone.
-Coube a mim ficar com as senhas e o dinheiro.
Mulher sábia, teve a parcimônia de acompanhar as tresloucadas fugas e posteriores voltas para casa do marido fujão.
Enquanto ela me narrava sua epopeia, lembrei-me de dona Gertrudes, uma vizinha de tempos idos, que morava próximo da casa de meus pais.
Geraldo, o marido era caminhoneiro, viajava o país todo, entregando e buscando cargas. Às vezes ele passava tempos sem dar notícia, a mulher se acostumara. Mas, uma vez ele ficou cinco anos desaparecido, sem que ninguém soubesse seu paradeiro. Em princípio, dona Gertrudes se preocupou, procurou-o por toda parte, e nada. Ela o deu por morto.
Um belo dia, próximo ao Natal, seu Geraldo aparece em casa, como se nada tivesse acontecido. Trouxe o presente da mulher e dos filhos. Quando ele sumiu, deixou quatro filhos com a mulher. Ao voltar tinha cinco.
Espantado, perguntou:
-Gertrude, me diz uma coisa, de quem é esse menino menor?
-É teu?
-Meu? Se eu não estava nem aqui.
-Exatamente, não estava porque não quisestes, mas o filho é teu, tem até o teu sobrenome. E, trata de comprar o presente de Geraldo Jr.
Rimos muito da história de Gertrudes e Geraldo. Desejamos Feliz Natal e nos despedimos.
-Professor, sempre um prazer encontrá-lo.
-O mesmo digo eu.
Como dizia o poeta Vinicius de Moraes, “A vida é a arte do encontro, embora haja muito desencontro pela vida”.
“Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar”, cantam Milton Nascimento e Fernando Blant.
Assim é a vida, uma dança de encontros e despedidas.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, viajante, o cidadão mais viajado do mundo com mobilidade reduzida e escritor, autor do livro “Das muletas fiz asas”.
ACRE
Avança o número de acreanos que vivem em domicílios alugados
Orlando Sabino
Em 2022, o Acre tinha 260.837 domicílios, onde em 78,1% eram domicílios próprios de algum morador (já pago, herdado, ganho ou ainda pagando), 13,9% em alugados, 7% cedidos ou emprestados (por empregador, familiar ou outra forma) e 1,0% em outras condições de ocupação. Os dados são do IBGE, que divulgou na última quinta-feira, 12, os dados referentes ao Censo Demográfico 2022: Características dos Domicílios, resultados preliminares da amostra.
No Censo de 2010, o estado do Acre tinha um total de 220.734 domicílios particulares ocupados. Destes, 154.367 domicílios eram próprios e 21.021 domicílios eram alugados, o que representa aproximadamente 9,5% dos domicílios no estado.
Portanto, o crescimento dos domicílios alugados, no período intercensitário, foi de 4,4 pontos percentuais, correspondendo a mais de 15mil e 200 domicílios. Os dados para 2022, por regionais, constam no gráfico a seguir.
Em todos os municípios mais de 70% dos domicílios ocupados são próprios
Em 2022, a proporção de moradores em domicílios próprios de algum morador (já pagos, herdados, ganhos ou pagando) superava 70% em todos os seus 22 municípios. Os municípios com as maiores proporcionalidades eram: Mâncio Lima (93,89%), Santa Rosa (91,42%) e Jordão (90,90%). Os com menores proporcionalidades foram: Rio Branco (72,81%), Plácido de Castro (73,04%) e Epitaciolândia (73,78%).
A condição de ocupação “próprio de algum morador – ainda pagando” atingiu extremos de 15,6% da população em Goiás e 3,9% da população no Acre. Já a condição “alugado” foi mais comum no Distrito Federal (30,1%) e mais rara no Piauí (9,8%). Em relação à condição “cedido ou emprestado”, o maior valor foi encontrado em Mato Grosso do Sul (8,8%) e o menor, em Santa Catarina (3,8%).
Em termos proporcionais, no ranking nacional, o Acre foi o campeão de domicílios construídos com madeira (40,76%)
Outro dado importante trazido pelo censo de 2022, foi que 47,0% da população acreana residia em domicílios com paredes externas de alvenaria com revestimento. A segunda opção mais comum foi a madeira, com 40,76%, seguido da alvenaria sem revestimento, com 9,07%. O Acre, foi o estado da federação que apresentou a menor proporção de domicílios em alvenaria e a maior proporcionalidade dos domicílios construídos com madeira.
A categoria “Alvenaria ou taipa com revestimento”, a proporção mais elevada foi registrada no Distrito Federal (95,0%). Já o Maranhão registrava a maior proporção de ocorrência da “Alvenaria sem revestimento” (18,2%) e da “Taipa sem revestimento” (6,6%).
A 25,9% dos domicílios acreanos possuem 5 cômodos
Em 2022, 2,13% da população residente em domicílios particulares permanentes morava em domicílios de apenas 1 cômodo, enquanto 7,43% residiam em domicílios de 2 cômodos. Os domicílios de 3 cômodos serviam de moradia a 13,25% da população, os de 4 cômodos a 22,24% e os de 5 cômodos a 25,88%. Os domicílios compostos por 6 a 9 cômodos abrigavam 27,64% da população, ao passo que os 1,44% restantes da população residiam em domicílios com 10 cômodos ou mais.
No nível das Unidades da Federação, também destoa a situação do Distrito Federal, pela alta proporção da população residindo em domicílios com 10 cômodos ou mais – 13,0%, mais que o dobro da média nacional. A segunda Unidade da Federação com proporção mais alta, Minas Gerais, estava 5,0 pontos percentuais atrás, com 8,0% da população residindo em domicílios com 10 cômodos ou mais. Já a Unidade da Federação a registrar a menor proporção nesse indicador foi o Acre, com 1,8%.
A proporção de moradores com máquina de lavar do Acre supera os 9 estados do Nordeste e 2 do Norte.
A proporção de moradores acreanos com máquina de lavar roupas em casa foi de 56,40% em 2022. Por cor ou raça, 43,8% da população parda não tinha máquina de lavar roupa no domicílio. A proporção era de 44,4% para pretos, 36,1% para brancos, 27,7% para amarelos. Já para indígenas, a parcela era de 84,5%.
Dentre os estados da Federação o Acre superou, proporcionalmente os seguintes estados: Tocantins (53,2%), Rio Grande do Norte (43,8%), Sergipe (41,9%), Ceará (41,0%), Paraíba (39,4%), Pernambuco (37,1%), Alagoas (36,6%), Pará (36,2%), Bahia (34,0%), Piauí (30,7%) e Maranhão (27,1%).
Com somente 74,79% o Acre é o último estado, no ranking nacional, com ligação domiciliar à internet
Em 2022, 74,8% da população acreana vivia em domicílios com acesso à internet. Por cor ou raça, não tinham acesso domiciliar à internet 24,8% da população preta, 24,8% da parda, 17,4% da branca e 19,2% da amarela. Já para indígenas, a parcela era de 73,7%.
Dentre as 5 Regiões do Brasil o Norte é o último do ranking (79,77%). O Centro-Oeste (89,63%) é a campeã, seguido pelo Sul (89,54%), Sudeste (88,72%), e Nordeste (81,30%). No Brasil existe 86,35% domicílios ligados à internet.
São dados importantes sobre algumas características dos domicílios acreanos. Merecem, portanto, uma reflexão por parte dos fazedores de política do Acre.
-
ACRE6 dias atrás
Governo do Acre solicita apoio do Ministério do Turismo para realização de edição histórica da Expoacre
-
RIO BRANCO7 dias atrás
Horto Florestal terá mais câmeras, policiamento e controle de acesso ao parque
-
MUNDO5 dias atrás
Israel vota nesta sexta-feira acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza
-
ACRE7 dias atrás
Deracre, Dnit e Corpo de Bombeiros removem balseiros
-
POLÍTICA6 dias atrás
Em atenção à orientação do Ministério Público do Estado do Acre, publicamos a Recomendação nº 02/2024 (Autos nº 06.2024.00000777-2)
-
Tribunal de Justiça6 dias atrás
Presidência do TJAC assina contrato para implantação do Repositório Arquivístico Digital
-
POLÍCIA6 dias atrás
Segurança Pública leva ação a comunidades
-
MUNDO6 dias atrás
No Catar, acordo de cessar-fogo é entregue ao Hamas e a Israel