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Passageiro do tempo
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Escrevo do aeroporto de Viracopos, Campinas, SP, enquanto aguardo o voo para Orlando, EUA. Caso tivesse que escolher, moraria em Orlando, lugar que amo.
Tudo corrido, compromissos adiados ou cancelados para uma viagem de descanso. Uma semana longe do burburinho corriqueiro. Pausa para respirar.
Os dias correm no varal do tempo, sem dar macha ré. A vida passa rápido demais para ficar esperando para encontrar o tempo certo para realizar desejos. Aprendi a separar um tempo para pequenos deleites, viajar é um deles. Procuro fazer pequenas epifanias, que me são prazerosas: observar entardeceres, tomar um café especial e demorado na companhia de pessoas queridas. Um vinho, ouvido minhas músicas atemporais. Dar e receber prazeres da carne. Ler o que gosto, assistir películas com temáticas que me transportam para um mundo novo. Coisas que fazem lembrar que continuo vivo em meio ao desassossego de cada dia.
Tenho a impressão que há um instante em que o tempo se parte em dois: o antes e o depois, o que fui e o que não sei o que serei. Há um instante em que percebo que estou vivo, mas não sei dizer em que parte de mim pulsa essa vida. Será na pele, essa fina película que me separa do mundo? Ou será no sonho, esse fluxo invisível que me atravessa sem que eu o tenha chamado?
Desde muito cedo aprendi a reservar um tempo só para mim, afim de ruminar ideias, devanear sem pressa. Mesmo no outono da vida, os sonhos continuam sendo minha matéria prima. No dia que não sonho, não existo.
O mundo me exige coerência, mas como ser coerente quando sou feito de rasgos e remendos, de silêncios que gritam e palavras que se calam? Sou dual. Meu corpo se move por inércia, mas minha alma hesita, como se cada passo fosse uma escolha definitiva. E se, de repente, eu parasse? O que aconteceria se eu desistisse de ser quem esperam que eu seja? O tempo continuaria a correr ou, por um instante, tudo se suspenderia num vácuo onde eu pudesse simplesmente… ser? Não sei. Essa dualidade faz de mim um eterno aprendiz em busca de caminhos que me levem para longe. Sou universo incompleto. Esse enigma que me escapa, essa coisa tênue que oscila entre o desejo e a ausência. Sartre dizia que estamos condenados à liberdade, mas e se a verdadeira condenação for essa ânsia de encontrar um sentido? E se o sentido for apenas um véu que colocamos sobre o caos, uma maneira ingênua de fingir que há um destino, que há um propósito, que não estamos apenas vagando à deriva em um universo desconhecido?
A vida ensinou-me que a gente precisa é de um olhar vivo, que não envelheça, apesar de tudo que já foi visto. E de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para finalmente ser protagonista de nossa história.
Olho no meu entorno, saguão de embarque do aeroporto cheio, pessoas em seus universos, a partirem para lugares que desconheço. Pessoas que não mais verei. Sou ser de transição, e estou aqui de passagem. Passageiro do tempo. É isso que torna a vida mágica. O tempo segue seu curso. Talvez a resposta esteja no instante. No agora. No respiro silencioso entre uma pergunta e outra. Porque no fundo, bem no fundo, a grande revelação seja esta: fazer o que nos eterniza.
Ouço, pelo auto-falante, que meu voo vai sair. Voo voar, fazer algo que me deixa feliz e pleno, conectado com as boas coisas da vida. É fascinante entrar em uma aeronave e sair do outro lado do mundo. Um mundo novo que me espera.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Instagram: @Luiz.Thadeu
Facebook: Luiz Thadeu Silva
E-mail: [email protected]

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Acre amplia o seu comércio exterior, mas ainda não chegou ao porto de Chancay

No primeiro trimestre de 2025 o Acre já exportou US$ 25,704 milhões e importou US$ 365 mil, apresentando um saldo de US$ 25,339 milhões. No mesmo período de 2024 o Acre tinha exportado US$ 15,679 milhões e importado US$ 1,204 milhão, apresentando um saldo de US$ 14,475 milhões. Na comparação entre os trimestres de 2024 e 2025, verificou-se um crescimento de 63,9% nas exportações e uma queda de 69,7% nas importações. Então, os dados apontam um crescimento da balança comercial, entre um período e o outro, de 57,1%.
Como pode ser observado no gráfico a seguir, o domínio das exportações no período veio da carne bovina (36,8%). Merece destaque, o preço da castanha no mercado internacional, que subiu, em média, quase 100% em relação ao mesmo período do ano anterior, o que influenciou no valor da sua exportação, que representou 21,8% do valor total exportado. As exportações de soja aumentaram com significância a partir no mês de março, mesmo no início, já representam 18,9% do total exportado pelo Acre. Os meses de alta das exportações da soja vão de fevereiro a junho.
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As exportações de carne suína continuam com uma alta representatividade nas exportações, estimulado por um leve crescimento dos preços pagos e representam 16, 5% do total. Já a madeira apresenta um cenário de baixa nos preços no mercado internacional refletindo a sua baixa participação nas exportações acreanas e atinge somente 3,4% do total exportado.
O Acre ainda não utiliza os portos do Pacífico no seu comércio internacional
Cerca de 36% dos produtos exportados, no primeiro trimestre de 2025, foram para o Peru, um pouco acima da participação do mesmo período de 2024 (34,2%). Em relação as importações, até o período, não tinham nenhum registro com o Peru. No mesmo período do ano passado, as importações do Peru representaram somente 6,4%. Apesar desse significativo comércio com o Peru, principalmente nas exportações, o Acre ainda não conseguiu fazer comércio internacional utilizando os portos daquele país, para acessar, principalmente, os países asiáticos.
As nossas exportações, em 2024, para a Ásia, totalizaram US$ 12,225 milhões, correspondente a 14% de tudo o que o estado exportou no ano. Por sua vez, as importações, que totalizaram US$ 4,43 milhões, 54% vieram de países asiáticos, valor extremamente significativo. Todo esses comércio exterior feito foi realizado pelos portos brasileiros, principalmente, os de Rio Grande e Manaus.
Os desafios para alcançar o porto de Chancay
Em matéria publicada pelo Jornal Valor Econômico do dia 14/4/2025, assinada pelo jornalista Guilherme Meirelles, com o título: “ Chancay, o porto com projeto auspicioso, mas com início de operação cheio de desafios”, descreve que, exportar para a Ásia por meio do novo porto do Peru ainda é inviável pelos altos fretes, trâmites aduaneiros e, principalmente, pela falta de estrutura rodoviária e ferroviária para transpor a Cordilheira dos Andes. Destacamos a seguir, os principais pontos levantados por Meirelles na sua matéria.
- As exportações por Chancay vão encurtar o trajeto marítimo pelo Oceano Pacífico em direção à Ásia em dez dias, se comparado às saídas dos portos brasileiros pelo Oceano Atlântico;
- Um navio partindo de Chancay alcança o porto de Xangai entre 20 e 30 dias; pelo porto de Santos, o mesmo trajeto, dobrando o cabo da Boa Esperança, pode demorar até 45 dias, conforme as condições climáticas.
- Meirelles ouviu o Sr. Luiz Pedro Bier, presidente da Aprosoja-MT, ele afirma que “Não há nenhuma movimentação de soja pelos portos do Chile e do Peru. A soja é um produto de baixo valor agregado. Teria de haver uma ferrovia até Chancay. Nossas carretas de nove eixos transportam até 55 toneladas, enquanto o limite nas cordilheiras é de 27 toneladas por veículo. É preciso uma integração para desburocratizar as aduanas nos países vizinhos e no Chile.”
- Em termos de políticas do Governo Federal visando a integração Sul-Americana, em um primeiro momento, as rotas com mais afinidade ao acesso pelo Pacífico via região Norte são as rotas 2 (Amazônica) e 3 (Quadrante Rondon), essa última de maior interesse para o Acre.
- Pela Rota 3, o programa prevê obras nas rodovias BR-364 e BR-317, que seriam canais de acesso pelo Acre ao Peru.
- Meirelles ouviu também o Sr. Augusto Cesar Barreto Rocha, diretor da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), que afirma que, entre outras coisas, põe ainda em dúvida as vantagens competitivas de Chancay afirmando: “O tempo que se ganha no trajeto marítimo seria compensado pelos transbordos, armazenamento, fiscalização policial, documentação aduaneira, intempéries climáticas e condição precária da infraestrutura”. O ideal, segundo ele, seria o asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), hoje praticamente intransitável em um trecho de 400 quilômetros.
- Olivier Girard, CEO da consultoria Macroinfra, também ouvido pelo autor da matéria, diz que há anos se buscam soluções modais para o acesso ao Pacífico, mas os fretes inviabilizam. Destaca que nos últimos anos, houve o esboço de dois projetos ligando por modal ferroviário o Brasil e o Peru. O primeiro seria a Ferrovia Transoceânica, conectando os portos de Açu (RJ) e Callao (Peru), em um trajeto de quase 17 mil quilômetros. O projeto nunca saiu do papel , afirmando que tanto na região de Pucalpa (Peru) como no lado brasileiro, no Acre, há reservas ambientais intocáveis.
- Girard complementa dizendo que no governo Bolsonaro, houve a proposta de uma ferrovia ligando os portos de Santos e Ilo (Peru), passando pela Bolívia. A ideia foi descartada pelo governo Lula e substituída pelo programa de integração de rotas.
São questões importantes que precisamos incorporar como armas para buscar soluções para o Acre alcançar Chancay, Fará muito bem para o nosso comércio exterior.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no NR
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